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Auto Sabotagem – como é isso na prática ? — 2 de setembro de 2015

Auto Sabotagem – como é isso na prática ?

É um texto que nos levará a desvendar as muitas coisas que nos acontecem na vida, atente para isso e perceberão o que acontece…

Muitas vezes temos a segurança de que somos donos do nosso próprio nariz, que somos independentes, achamos que fazemos nossas escolhas e opções de forma consciente. Mas escolhemos racionalmente e seguimos por caminhos de vida, tomamos atitudes e assumimos compromissos que, muitas vezes nos levam a fazer um trajeto mais longo do que o necessário, ou mesmo que desvie do objetivo principal. Falo especificamente das situações em que paramos pra pensar e percebemos que estamos perdendo tempo, que não estamos no trabalho que gostaríamos, que não estamos vivendo a vida que queríamos, e, na verdade bastaria uma atitude, uma decisão, uma pequena mudança em alguma área da vida, ou em nós mesmos, e tudo estaria resolvido.

Relembrando fragmentos sessões, dos atendimentos ao longo do tempo, me vêem vários exemplos : uma mulher casada, aceitando a traição do marido, um bancário que apesar de crises de gastrite já ulceradas não conseguia se desligar e mudar de emprego, mas principalmente, aceitava a tirania de seu encarregado. Uma senhora de 43 anos que queria conquistar um amor, mas sempre se envolvia com homens casados, outra que não conseguia assumir um compromisso serio com alguém, tinha relacionamentos superficiais e, sempre, como ela dizia “acabava o amor” quando sentia estar vinculando-se. Todos estes casos têm sua especificidade, suas causas únicas, são patologias “personalizadas”, e diferentes uma das outras. Em alguns casos a pessoa não se envolve por medo, por culpa, por falta de confiança em si mesmo, como também em outros casos não se consegue conquistar o sucesso profissional por estes motivos, mas atrás de tudo isso há algo em comum em todos eles : por que mesmo querendo muito alguma coisa, nos afastamos dela ? A resposta está no inconsciente – objeto de estudo da psicanálise. Esta entidade com certa independência que muitas vezes nos controla, nos burla, nos “sabota”.

Um paciente, Marcos (nome fictício), dizia :

“- Não sei porque sou assim… Parece que dou sempre voltas em torno do que quero, sempre tomo o caminho mais longo, para nunca chegar a ele… Parece que sempre preciso “fazer algo antes”… Sempre tem algo dificultando, adiando, distanciando…”

Marcos é um caso típico de alguém que fica vivendo “em círculos” e não consegue realizar seus sonhos e desejos, pois é sabotado, mas sabotado por si mesmo, não pelo consciente mas pelo seu lado não-consciente, ou inconsciente. . Mesmo tendo consciência da situação e de seus bloqueios inconsciente, ele não consegue mudar por si mesmo.

“Somos de tal forma impregnados pelas associações sintagmáticas que utilizamos para decompor o mundo e, em seguida, recompô-lo que, muitas vezes, o novo é sentido como uma ameaça, pois nos obriga a reavaliar as representações que confortavam nossas angústias. É com dificuldade que abrimos mão de valores e teorias que nos têm sido tão caras para ler o real.”(FREUD, 1917)

É preciso trabalhar seu processo psicodinâmico, na terapia para “desbloquear” esta auto sabotagem. Marcos, quando criança, e até mesmo antes disso, foi se constituindo, na espectativa e desejos dos pais, e para ganhar a atenção e carinho deles, foi criando seu caráter, sua personalidade, sua maneira de ser. Sendo o filho mais velho, era-lhe exigido que cuidasse dos outros, que se responsabilizasse se algum deles fizesse alguma coisa errada. Assim, ele se tornou um rapaz responsável, e que busca reconhecimento dos outros. Desde criança, era invejado por seus irmãos, por ser o filho mais “confiável” dos pais, que lhe davam maior status na família. Marcos tem aparência ingênua, no seu comportamento por buscar agradar, e conquistar o afeto de todos. Por trás disso, uma necessidade do afeto dos irmãos. Uma sentimento inconsciente de culpa por ter sucesso e assim se sobressair aos irmãos que não tiveram a mesma capacidade e sucesso profissionais, juntamente com o medo de ser taxado de arrogante pelos irmãos.. Isso se manifesta no comportamento de Marcos, submisso, sempre pronto a ajudar, muitas vezes abusado nesta bondade e obsessão em agradar. O excesso de responsabilidade que lhe foi imposto, faz com que ele aceite as mais sérias agressões do patrão arrogante,

A culpa, não-consciente, controla Marcos, faz com que ele não consiga terminar nada que possa aumentar a distância sócio-econômica ou cultural de seus irmãos, e sem perceber Marcos vai colecionando incompletudes em sua vida. Por um lado, uma ânsia em crescimento pessoal, por outro, uma culpa que faz com que Marcos sinta-se “patinando”, aos 44 anos, com seus cursos incompletos, algumas lacunas em seu curriculum que dificulta uma recolocação profissional.

Figurativamente é como se Marcos fosse um balão, com a força do ar quente o puxando pra cima, mas ao mesmo tempo ele não solta a corda que o distanciaria do chão, no caso, representando pra ele a a seus irmãos o impedissem, por uma corda presa ao chão onde todos eles estão.

Marcos não terminou a faculdade, seu automóvel é muito velho, e não consegue se desfazer dele, nem ao menos colocá-lo em dia, abandona todas ideias que tenta por em prática pois desanima facilmente.

“…E nunca abandonamos de bom grado um modo de satisfação pulsional, ainda que um outro já se nos acene”(FREUD, 1917)

A mudança e difícil, mas muito mais difícil é viver com a sensação de não ser autônomo, de não ser independente, de não poder conquistar coisas que desejamos, posições profissionais e familiares sadias e compensadoras. Ainda mais quando entendemos que a resolução destes bloqueios não estão tão distantes de nós, e que temos a chance de tomar as rédeas da vida e modificar nosso modo de ver o mundo, retomar nossos ideais e viver a real busca pela felicidade.

Bibliografia :
CECARRELI, P.R., Perversões e suas versões pachto://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/reverso/v27n52/v27n52a07.pdf
FREUD, Sigmund (1917). Conferências Introdutórias sobre a Psicanálise, conf. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, v. XVI, 1976.